sábado, 22 de setembro de 2007

Sobre Renato

Há alguns dias eu tive a sorte de conhecer um cara meio louco, de uma doce e povoada insensatez. Talvez poeta, talvez cantor, talvez humano face às suas dores tão comuns a todos nós; o medo da solidão, do desamor, da sorte, das incertezas desse mundo, desse "Estado que não é nação". De repente me vi em meio às suas palavras, sua história, sua doença. Sabe aquela coisa de conhecer alguém que você já ouviu falar muitas e muitas vezes? Pois é, foi isso! Renato foi uma pessoa intensa, extremada, devorador de livros, de palavras alheias, tão suas quanto as suas próprias palavras. Nunca ninguém cantou a vida com tanta veracidade, com tanta proeza. Nunca ninguém cantou letras que eram suas, minhas, de cada um de nós... Nunca houve tanta contemporaneidade em sua poesia; É quase Fernando Pessoa, entediado, mas fazendo tudo valer a pena; mesmo com febre a tarde inteira, mesmo com a certeza de que o "pra sempre acaba", mesmo querendo não ser ele mesmo "quando tudo está perdido". Nunca ninguém falou tanto de amor, mesmo platônicos em sua maioria; "Mas é só o amor que conhece a verdade". Nunca ninguém se machucou tanto por amor, ou pelo que ele julgava amor. Num show que posteriormente foi lançado em CD, intitulado "Platéia livre", Renato introduz "vento no litoral" dizendo que quando o amor é verdadeiro não existe sofrimento. Acho que nem ele mesmo sabia o que estava dizendo. "Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu", cantava Renato em "Se fiquei esperando o meu amor passar". Não, Renato, quando se pensa que se sabe amar, o mundo foge, o chão some, a chuva, o frio, o calor se tornam diferentes. Pena que nem eu, nem você, nem sei lá mais quem sabe amar. Pena que a "verdade assombra", pena que você se foi tão cedo... Talvez esse mundo mutante não te coubesse em verso e música, tua Legião Urbana se calasse frente ao marasmo desse mundo cruel... Tanto sangue escorrendo pelas ruas; a paz que se esconde em dicionários, já que vivê-la está se distanciando, está trancada em corações amedrontados... "O mundo anda mesmo tão complicado", e as desculpas são sempre as mesmas. Os bons morrem jovens...

Texto inspirado após o livro sobre vida e arte de Renato e a Legião Urbana; Artur Dapieve, 2001.

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