sábado, 4 de junho de 2011

Seu aniversário

Dia 31 você ficaria mais velho, mas tão jovem ainda... sempre pensava em te ver sentado no sofá, cabelos brancos, jornal na mão (quem sabe já vovô!). Eu lembro de tantos 31 de maio, do abraço de feliz aniversário, do sorriso que você dava, do presente que dinheiro nenhum pode comprar. Essa semana passou despercebido pelo meu consciente, já que certamente meu inconsciente nunca esqueceu... terça-feira foi um dia tão pesado, cheio de compromissos e quando dei por mim, já não era mais 31 de maio, já não tinha mais o abraço de feliz aniversário... lembranças... a saudade presente na sua ausência física. Há, além do espaço vazio na casa, corações cheios de saudade (a palavra que não se traduz).
O mesmo tempo que desloca a atenção das coisas, marca os dias sem você... por trás do dado quantitativo, positivo, um número, há algo muito maior: a historicidade desses dias incompletos, há um laço rompido, cujas pontas estão ainda soltas pelo ar.
As lágrimas agora não são de tristeza, juro, por mais doloridas que representem... refletem a saudade que sinto. Refletem a necessidade de coragem pra manter os alicerces da casa, manter o ritmo, manter a nossa historicidade... e o quanto eu queria te falar que eu tô estudando tanto e que tudo que sempre fiz foi pra te orgulhar. E o quanto eu queria ver você me esperando na rodoviária quando eu voltar pra casa... o quanto eu queria receber suas ligações todos os dias... talvez, agora seja fácil falar tudo isso... talvez eu não tenha dado valor enquanto estava fisicamente vivo, talvez eu tenha mais apontado seus erros que acertos... talvez eu tenha mais visto sombra que sol... e, se não cheguei a tempo de te ver com lucidez, não foi por consciência, não foi por despreocupação, foi por desconhecimento... eu largaria tudo pra repetir aquele dia no hotel, não saíria dali achando que você estava suficientemente bom, já que até bronca havia me dado! A última bronca, tão leve, de pai... Eu não poderia saber, prever, nem queria... eu só tentei pensar positivo e a bronca seria a confirmação, você estava bem! Não poderia ser egoísta te querendo por perto, não poderia ver você sofrer, não conseguiria. Naquela última oração, só pedi a Deus que fosse feito o melhor pra vc, mesmo que esse melhor pra você fosse causar isso que machuca agora, que machuca há dois longos anos. Não há mais dor, remédio, médicos, notícias que não gostava de ouvir. Há um silêncio que beira à paz... Você não se foi... um pai de verdade não abandona suas crias. Ainda me carregas no teu colo, como sempre fez...

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