A
superação do rigor do Fordismo com a transição para a acumulação flexível e,
assim, uma maior circulação de mercadorias e grande velocidade de informações,
trouxeram a massificação do consumo (consumismo). Essa maior velocidade de giro
do capital é fator preponderante na volatilidade vista nos modismos, na
sociedade do descartável, onde nada foi feito para durar. A manipulação dos
gostos e da opinião das pessoas pela mídia é uma grande preocupação do
capitalismo, ou seja, a produção de signos. Nesse contexto, as imagens são
vendidas antes mesmo do produto em si. A mídia tem dois papéis na atual fase da
globalização das informações, informar e convencer, esta última favorecida
pelos signos utilizados para tal convencimento, signos estes que buscam tocar
no ego dos consumidores, o ser é colocado em segundo plano.
A
questão ambiental está imbricada nesse contexto, já que não se pode separar a
sociedade da natureza. Desde a Conferência da ONU Sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a “Rio - 92”, houve uma análise sobre o ‘modelo de desenvolvimento’ capitalista
da atualidade e suas ligações com a problemática ambiental. As discussões da
Conferência refletiram sobre a incessante busca pelo lucro e sua
relação com o aumento da produção e, a partir daí, o aumento do uso dos
recursos naturais. A própria nomenclatura ‘recurso’ indica mercadoria utilizada
para saciar alguma necessidade. Tal produção necessita de consumidores e é
nesse contexto que o papel da mídia é decisivo, criando necessidades em massa,
o que gera mais produção, mais uso de recursos naturais, degradação ambiental e
perda da qualidade de vida, seja por poluição ou miséria à custa de juros
exorbitantes dos empréstimos para recuperar o que foi degradado, agravando os
níveis de desigualdade, falta de perspectivas, violência. Em suma, é um efeito
dominó nocivo à humanidade, à natureza e a qualquer forma de desenvolvimento
ético.
A
análise do consumismo passa, inevitavelmente, pela análise do consumo, e que
isso não pareça redundância. A sociedade tem necessidades que precisam ser
satisfeitas e o consumo é primordial. Quando o consumo sofre interferências dos
signos impostos pela mídia em primeiro plano, e com a convivência com a
sociedade que também foi convencida pela mídia, o consumismo, a alienação, a
volatilidade dos desejos tornam-se latentes.
A
atual fase da produção de mercadorias, onde os produtos têm vida útil reduzida
e cada vez mais novidades são apresentadas aos nossos olhos, mostra o quanto os
gostos têm duração programada. O crédito fácil e rápido é o mecanismo de
satisfação dessas inovações, crédito esse a um alto custo.
A
mais-valia se realiza no consumo. A venda da força de trabalho fornece o
salário que permite a satisfação das necessidades criadas/impostas pelo modo de
produção, assim fica pouco visível o trabalho como um processo fundamental, sua
importância criativa, que gera a satisfação, desfavorecendo o grande valor da
atividade humana.
SENTIDOS E NECESSIDADES: ENTRE A
CONDIÇÃO BRUTA E A (DI?)LAPIDADA
Numa
crônica de Rubem Alves que narra o encontro deste autor com Marx, há um relato
da ligação dos sentidos com a satisfação das necessidades, entre a condição
bruta e lapidada dos sentidos existe uma grande mudança. Contudo, o capitalismo
não tem vínculos com o prazer que o refinamento dos sentidos pode trazer,
caminha somente em direção ao lucro. Assim, quem detém os meios de produção
objetiva que o consumidor compre cada vez mais, não importando como. Na
condição bruta, os sentidos sentem somente a necessidade do necessário, com a
lapidação gerada da acessibilidade de informações os sentidos se expandem.
Hoje, não há dificuldade para quem queira comprar os mais variados produtos,
nacionais ou importados, mesmo aqueles que vivem nos mais longínquos lugares,
entretanto nem todos podem consumir.
A
facilidade de comunicação em massa é algo altamente explorado pelo capitalismo
atual, dando a impressão de superação das barreiras espaciais. Percebe-se,
portanto, que entre a vontade de consumir, esta pertencente a todos, e a
efetivação do consumo há uma distância significativa. O crédito é mais
acessível que o dinheiro, o que fornece os dados tão aclamados pelos órgãos do
governo, constatando que as classes C, D ou E estão consumindo. Mas são essas
classes que não têm o mesmo acesso à educação (mas sim à informação para o
consumo) que as classes A e/ou B. O acesso à informação para o consumo penetra
em todas as camadas, contudo, não promove um refinamento dos sentidos, mas uma
alienação para o consumo, ou seja, consome-se pelo ego. A massificação do
consumo leva a uma perda de identidade, além de conduzir à competição pela
distinção diante do outro. Um reflexo dessa corrida pelo consumo é o acúmulo de
bens. A degradação da qualidade de vida, ou a ligação desta com o poder de
consumo, a efemeridade das relações humanas, a massificação das vontades, dos
costumes em detrimento da beleza da diversidade cultural são efeitos perversos
trazidos pelo capitalismo através do consumismo.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Rubem Alves Entrevista Marx Numa Cervejaria.
Disponível em: <
http://www.rubemalves.com.br/rubensalvesentrevistamaxnumacervejaria.htm>
Acesso em 22 Jun. 2013.
HARVEY, David. A Compressão do Tempo-Espaço e a Condição
Pós-Moderna. In: ______. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre
as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 2003.
LEFF, Enrique. Saber Ambiental. 6 ed. Rio de Janeiro: Vozes,
2008.
SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização. Rio de Janeiro:
Record, 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário